Cresci em uma família tradicionalmente católica.
Apesar de ser o sonho de mamãe, me ver linda-maravilhosa adentrando a catedral, vestida de branco ao som da marcha nupcial com um bofe-lusho me esperando no altar, creio eu que esse ritual religioso jamais será cumprido por mim.
Adoro cerimônias de casamento e acho que se eu não gostasse de mulheres, um dia chegaria minha vez.
Eu ainda frequento a igreja, até com certa assiduidade.
Acho que precisamos sim, seguir uma religião e praticar a nossa fé.
O problema maior é que grande parte das doutrinas religiosas (exceto o espiritismo, budismo, exoterismo) condena de forma ferrenha o homossexualismo e o sexo antes do casamento. Isso exclui é claro, as seitas satânicas, que pregam o mal ao próximo, onde os "fiéis" buscam atingir seus objetivos através de práticas insanas, agressivas e absolutamente condenáveis - esse tipo de caso, eu não considero como religião. Penso na verdade, que as doutrinas religiosas consideráveis servem pra guiar os nossos passos em busca de uma convivência plena e pela grandeza espiritual e individual.
A missão mais importante para nós, lésbicas, é encontrar um equilíbrio em nossa conduta religosa, indepentemente da nossa opção sexual. Eu consigo seguir a doutrina católica de forma tranquila, sem me sentir culpada por ser homossexual e muito menos por praticar sexo antes do casamento.
Se o casamento gay fosse permitido, juro que até pensaria no caso. Mas como isso está muito longe de acontecer, convivo muito bem com a idéia, sem trauma e sem peso na consciência.
O segredo disso é saber filtrar o que serve e o que não serve pra você.
O padre, o rabino ou o pastor não são senhores da verdade. A verdade mais importante é aquela que está dentro de nós. Se eu não acho errado ser sapa, por que eu vou me ofender com certos comentários?
Outro fator importante: Não são só os homossexuais que descumprem algumas regrinhas.
O catolicismo, o protestantismo, o judaísmo e o islamismo condenam na maioria das vezes, o sexo antes do casamento, o uso de métodos contraceptivos e o prazer sexual....
-Você acha mesmo que mamãe e papai faziam sexo só com fins reprodutivos e ficavam contando na tabelinha qual era o melhor dia pra transar? Esquece!!!
Devemos considerar que essas doutrinas se baseiam em escritos muito antigos, de dois, três mil anos atrás onde havia um modelo social, intelectual e cultural completamente diferentes. O transporte era feito por animais, a escrita era muito distinta e o acesso a informação era muito restrito. Por isso acho que as religiões devem se adaptar ao novo modo de convivência. Enquanto isso não acontecer, cada um se responsabiliza por escolher o que é bom e ruim pra si. O mais importante de tudo é a busca pela felicidade individual, sempre prezando o respeito ao próximo.
Já me deparei com meninas de várias religiões diferentes. Corro léguas das macumbeiras, das "meninas-de-preto" e das bruxas. Nada contra. Elas só não fazem o meu tipo.
Acho que a situação mais interessante de todas, foi quando conheci uma garota em um pub. Depois de alguns minutos, ela me abordou. Era muito bonita e tinha um papo bem interessante. Conversamos um bom tempo. Depois disso, tivemos um envolvimento não-tão-breve e após alguns encontros rolou sexo.
Percebi que ela tinha uma tatuagem e quando consegui ler, vi que era uma frase bíblica.
Nunca tínhamos conversado sobre Deus e religião. Até então havíamos nos encontrado quase que formalmente em almoços e cafés-da-manhã.
Como é de praxe, inicialmente não faço perguntas demais e muito menos cobranças, mas já havia tido a “leve impressão” de que ela era bem ocupada no período da noite.
Com o passar dos dias, descobri que ela era protestante, ia quase que diariamente ao culto e ainda cantava no coral da igreja.
Ela era uma menina-de-bem, não era promíscua (apesar de gostar muito de sexo e convenhamos, ela era muito boa nisso!) e assim como eu, não tinha problema nenhum em lidar com o fato de ser lésbica e ter uma religião que condena esse tipo de orientação sexual.
Aprendi muito com ela. E acho sim que a nossa doutrina religiosa não pode nos trazer dor e inquietação... a profissão de nossa fé deve nos proporcionar a paz e a grandeza da alma!
Não importa se você é judia, católica, protestante ou budista! Se você está presa à sua religião ao ponto de ter que abrir mão dos seus desejos (desde que esses desejos sejam saudáveis), está na hora de procurar ajuda.
Imagina o inferno que será a sua vida, se você seguir os escritos e acabar se casando com um bofe que você nunca vai amar. O pior de tudo é ter que ver as delicinhas passando na sua frente e não poder fazer nada!
Se você acha que gosta mesmo é de uma xana e pensa que pinto todo dia é “a treva”... sai do armário e se joga na balada gay. Tenho certeza que você vai ser muito mais feliz.
O melhor de tudo, é que se você conseguir separar as coisas, vai poder seguir a sua crença sem remorsos e sem conflitos inúteis!
Eu não tenho problema nenhum em namorar meninas de outras doutrinas. E se eu for convidada pra acompanhar minha namorada, (rolo, paquera, tico-tico-no-fubá…) em qualquer tipo de cerimônia religiosa, não costumo recusar! Acho mesmo que conhecer outras religiões é importante pra alimentar a alma e até pra obter conhecimento.
Portanto, nada de ficar se pré-condenando ao inferno apenas pelo fato de ser lésbica. Se você é uma pessoa que não faz mal a ninguém, pratica a caridade, tem amor ao próximo e à Deus, ninguém vai te mandar para o castigo eterno!
Se alguém fosse condenado somente por ser gay, a justiça divina estaria longe de ser justa!
1 comentários:
Nossa, Nany... bem denso seu texto desta semana. Está bom, bem escrito, mas denso!
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